PORQUE GOSTAMOS DE FAZER O QUE NÃO GOSTAMOS DE FAZER?

 


Outro dia estava pensando umas coisas bem engraçadas. Uma delas, a que mais se destacou foi a respeito das coisas que fazemos sem gostar e não conseguimos dizer que não gostamos. Parece uma coisa estranha, coisa de louco mesmo – “Como gostar de uma coisa que não gostamos”. Uma contradição em si mesmo, mas acontece.

Outro dia mesmo, sentado no sofá eu dizia: – ” Não gosto de Coca Cola, prefiro tubaína!”, isso era de manhã. A tarde precisei sair e estava um calor danado. Passei em frente do supermercado e adivinhem o que eu comprei de refrigerante? Isso mesmo, a bendita Coca Cola. Mas não tinha outro refrigerante? Tinha e mais barato – Uma Tubaína, mas comprei a Coca Cola mais cara. Dá para entender?

Tem outras atitudes estranhas que cometemos sem prestar a atenção.

Pegava trem lotado todo dia. Um inferno em trilhos. Sempre dizia aos colegas que encontrava pelo caminho que aquilo era a pior coisa do mundo, chegava todo dia suado no trabalho e era mal visto por isso – Mais um pobre coitado que pega trem lotado todo dia. A questão da pobreza nunca me chateava, o problema era o trem.

Pois é, sai do serviço e dois anos depois, num desses dias malucos, que ficamos pensando no nada, não é que fiquei lembrando dos momentos felizes e engraçados que passei nos vagões apertados de trem, deu saudades e vontade de voltar a pegar trem. Coisa de louco.

Existe na medicina uma doença (acho que é doença) chamada Síndrome de Estocolmo, que acontece geralmente com vítimas de sequestro e cárcere privado. Essas vítimas, pelo terror que passam ou pelo isolamento ou carência, começam a gostar do seu opressor. Isso pode explicar muita coisa.

Mundo altamente estressante, injustiças a todo o momento, exploração financeira, corrupção, violência doméstica, bullying, maus tratos com crianças e animais, transporte de péssima qualidade, falta de saúde pública e privada de qualidade, criminalidade e impunidade, e aí vai. Estou achando que pode ser essa tal de Síndrome de Estocolmo ou uma variante disso que nos faz cometer esses deslizes de gostar do que não gostamos ou enxergar coisas positivas na desgraça.

Deve existir tratamento, se for isso mesmo. Mas será que queremos? Fica uma pergunta no ar.

Também tem coisas que falamos não gostar a acabamos gostando.

“Não gosto daquela pessoa” Porquê? Não sei, apenas não gosto!” Essa é uma coisa que acontece com todo mundo. A maioria das vezes é preconceito mesmo. A pessoa se veste mal, na concepção de quem fala, um olhar estranho, o som da voz, preconceito racial ou regional. Muitos podem ser os motivos preconceituosos. Esse tipo de preconceito ocorre, geralmente, antes de conhecermos a pessoa, de conversar e conviver. O que ocorre na maioria das vezes, para as pessoas muito preconceituosas, é a afeição com a pessoa, pelo convívio do dia a dia. Não gostar por não saber ou conhecer e, acabar gostando.

Na verdade, eu acho que não sabemos gostar das coisas ou, não sabemos não gostar delas.

Comentários